quinta-feira, 24 de julho de 2008

PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA E A ÉTICA

Elisa Maria Pitombo

Este tema sobre as relações entre a Psicopedagogia clínica e a Ética ocupa um lugar importante, porém pouco abordado na formação do psicopedagogo. A Ética, muitas vezes, é vista como pertencente exclusivamente ao campo da Filosofia, distante do interesse da prática e do saber na clínica psicopedagógica. Nessa perspectiva, o saber do processo de aprendizagem da Psicopedagogia é considerado afastado da Filosofia, sugerindo que a ação humana e, mais precisamente, a prática clínica estivesse assepticamente afastada da vida.
A Psicopedagogia, área de conhecimento que estuda os processos de aprendizagem do homem e seus problemas, considera o sujeito como capaz de aprender e ultrapassar o sintoma da não aprendizagem, portanto ativo nas suas relações sociais.
A clínica psicopedagógica lida com as representações simbólicas das elaborações objetivas e subjetivas do sujeito com problema de aprendizagem, num contexto particular. Nesse espaço de escuta, de acolhida há a predominância da busca pela objetivação do sujeito como único e capaz de aprender. Torna-se fundamental na clínica psicopedagógica a inclusão do sujeito na realidade como ser pensante, criativo e feliz no meio em que vive.Pensar em Ética na Psicopedagogia clínica é permitir-se mergulhar em questionamentos que estão presentes no próprio ato do aprender: Como aprende o cliente? Porque mantém o costume do não aprender ? Como entende as regras sociais ? É justo como a família e a escola entendem a aprendizagem do cliente? Seria honesto comunicar os dados particulares da família para a escola ? Como o psicopedagogo deve lidar com as informações obtidas com a família e com o cliente ? O que é ser bom para com todos envolvidos no processo clínico?
Situações de questionamentos surgem com regularidade na prática clínica psicopedagógica. As dúvidas quanto à decisão a tomar põem em prova a moral, pois exigem uma decisão do que fazer, do que justificar para nós mesmos e para os outros sobre as razões das decisões tomadas e suas conseqüências no âmbito clínico.
Tais indagações citadas acima indicam a consciência moral que referem-se a valores (justiça, honradez, integridade e generosidade). A consciência moral diz respeito a valores, sentimentos, intenções, decisões e ações referidos ao bem e ao mal, enfim ao desejo de felicidade. Referem-se às relações que mantemos com os outros e, portanto, nascem e existem como parte de nossa vida intersubjetiva.
Os valores são produtos da capacidade do homem em avaliar, em atribuir significados às coisas e às ações. Portanto, para avaliar, considera-se os juízos que são estabelecidos a partir de critérios morais. O ato de ajuizar, de pensar, de produzir conhecimentos e cultura, confere ao homem o agir sobre a natureza por meio de seus instrumentos de modo a transformá-la.
Já a Ética constitui-se, em sua essência, na reflexão consciente sobre os costumes, as regras e ainda sobre os hábitos estabelecidos, validados pela ação moral. Estabelecemos livremente uma série de regras no mundo em que vivemos, mas sabemos que a liberdade começa aonde termina a do outro, no entanto ela se dá pelo outro na relação com o outro, pela moral.
A prática da Psicopedagogia clínica envolve o aspecto relacional do sujeito que tem dificuldades com o aprender. Desta maneira o atendimento clínico psicopedagógico é estabelecido na relação com o outro pautada nas ações morais, porém pensadas e regidas pela Ética.
A Ética estará presente em cada psicopedagogo que se permite indagar o seu “modo de ser” ( Ética vem do grego Ethos, que indica “o modo de ser”, “o caráter”) na relação terapêutica que estabelece com o cliente, e todos que participam nesse processo.
A Ética nos remete diretamente a uma teoria do sujeito, indicando o seu comportamento subjetivo, ou seja, a sua maneira de ser. Então pergunto até que ponto o psicopedagogo clínico investiga-se com consciência se está sendo ético na sua prática clínica? Se vê e considera o cliente como ser único?Acredito que, apesar de desgastada pelo uso, dada a carência de sua permanência efetiva nas relações humanas na atualidade, a Ética encontrará o seu lugar na Psicopedagogia clínica, na medida em que essa conduta investigativa estiver presente na formação dos psicopedagogogos nos espaços dos cursos, supervisões e grupos de estudo.
Para tanto penso que cabe aos psicopedagogos permitirem permear sua prática clínica pelo questionamento ético de valores humanos tais como justiça, honradez, integridade e generosidade. As reflexões éticas, no meu ponto de vista, são de extrema relevância por aproximarem em si, o respeito à vida do cliente, da família e da escola, conferindo um modo de ser ético à Psicopedagogia clínica.
Concluindo, espero ter contribuído neste artigo, com a função de propor a discussão sobre a investigação Ética - o questionar ético sobre o processo de aprendizagem humana e seus problemas. Nesta posição, pretendi também possibilitar o pensar sobre a perspectiva de proximidade da Psicopedagogia clínica com a Filosofia, - uma prática clinica da vida humana sustentada pela Ética.

Referências bibliográficas
BUBER, Martim Eu e Tu São Paulo: Moraes, 1985.
CORTINA, Adela O fazer ético: guia para a educação moral Coleção Educação em Pauta, Escola & Democracia São Paulo: Moderna, 2003.
LA TAILLE, Yves Desenvolvimento do juízo moral e afetividade na teoria de Jean Piaget, Vygotsky e Wallon: teorias psicogenéticas em discussão São Paulo: Summus, 1999.
SAVATER, Fernando Ética para meu filho São Paulo: Martins Fontes, 1996.

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